Mais um ano sem Telê Santana, o técnico brasileiro que até hoje é lembrado em qualquer discussão que envolva a qualidade técnica e artística de um jogo. Mestre Telê estaria fazendo 82 anos no dia 26 de julho de 2013. Após nos deixar, no ano de 2006, muitas homenagens foram feitas.
Aqui, no Literatura na Arquibancada vários artigos para reverenciar Telê Santana.
Em 2012, a lembrança de sua vida eternizada na biografia “Fio de Esperança” (Cia dos Livros):
Na data em que partiu, 21 de abril, outra homenagem, desta vez pelas mãos do poeta Carlos Drummond:
Ainda em 2012, o lançamento de um livro que resgatou o trabalho de Telê na Copa de 1982, na famosa “Tragédia de Sarriá”:
Em 2011, no dia do professor, a reverência àquele que era tratado por mestre:
Neste ano, 2013, Literatura na Arquibancada apresenta uma raridade para os fãs do mestre Telê Santana. Nos anos 1950, fez enorme sucesso entre leitores do país, especialmente na cidade do Rio de Janeiro, a publicação da revista “Vida do Crack”. A cada edição um homenageado. Telê, no auge de sua carreira como jogador do Fluminense, acabou virando atração da revista.
O que você lê abaixo são as primeiras páginas da revista dedicada exclusivamente a Telê. Nelas, a fonte básica para a construção de sua futura biografia, “Fio de Esperança”, escrita pelo jornalista André Ribeiro. Detalhes que, felizmente, foram revelados na época por Telê. A publicação é da de número 30. Pena não existir em sebos brasileiros exemplares dessa verdadeira raridade.
Vida do Crack
Telê Santana
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Itabirito, terra onde Telê nasceu. |
Itabirito, e não São João Del Rey, a cidade natal de Telê
Na cidade mineira de Itabirito, viveram, conheceram-se e casaram-se, João Veríssimo da Silva e Corina Silva. A feliz união produziu uma apreciável prole, de dez rebentos, cujos nomes, pela ordem passamos a enumerar: Jorivê, Atiê, Telê, Goitê, Dalva, Alva, Ervê, Lindalva, Marialva e Clodovê.
Mas, naturalmente, nos deteremos na vida do nosso focalizado deste mês, o extraordinário craque do Fluminense Futebol Clube, Telê Santana Silva. Telê é o terceiro da série dos dez acima relacionados. Telê veio ao mundo na cidade de Itabirito, ao contrário do que muitos tem afirmado, de que São João Del Rey, a sua cidade natal.
Seu nascimento (coincidentemente também aniversário de Pirillo), deu-se em 26 de julho de 1931, no dia de Santana, daí, aliás, a inclusão em seu nome, do nome do santo. Aconteceu, porém, que ao completar Telê, um ano de idade, a família via-se aumentada com o nascimento de mais um menino tendo infelizmente, ambos ficado doentes, motivo pelo qual sua mãe, naturalmente, já com dois filhos, ainda pequenos além do de colo, recém nascido e doente, e Telê, de apenas um ano de idade e igualmente enfermo, solicitou à sua irmã, que era sua vizinha e solteira que residia em companhia de um irmão, também solteiro, que cuidasse do menino Telê, até que ele se restabelecesse.
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Telê aos 2 anos de idade. |
Mas ao verificar-se a cura do garoto, sua tia que se desdobrara em desvelos e dedicação para com o sobrinho e adquirindo por ele uma forte afeição e levando em conta a proximidade da moradia, o que naturalmente, facultava a seus pais o verem, diariamente, pleiteou da irmã, que deixasse a educação e manutenção do garoto a seu encargo. Houve a reunião entre os pais do futuro grande craque de futebol, para decidir sobre o assunto, concordando em que o menino, ficasse sendo cuidado por sua boníssima tia, Dona Maria Faustina da Silva e seu tio, Sr. Eurico Silva.
A infância de Telê
Telê teve uma infância relativamente calma. Tratado com todo carinho por sua querida tia, que lhe fazia todas as vontades, divertia-se, ora banhando-se nas águas mansas do rio, ora jogando peladas nas ruas, o que mais gostava de fazer, principalmente, quando seus pais transferiram sua residência para a cidade de São João Del Rey e o deixaram com seus tios, já que estes não admitiam a hipótese de se separarem do querido sobrinho, o que os pais de Telê, julgaram justo, mormente, porque, tratando-se de uma moça solteira, que se dedicou inteiramente ao garoto, naturalmente seria um rude golpe afastar de si o menino. Além do mais, a sua criação estava sendo tão bem cuidada como se o fosse por seus próprios pais. Mas nesta infância tranquila ocorreu um grave acidente com o pequeno Telê.
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Telê na escola em Itabirito (na 1ª fila, terceiro da esquerda para a direita) |
Como se sabe, no interior, as festas juninas são vivamente comemoradas, e Itabirito não foge a esta regra geral. Pois bem, quando Telê contava 5 anos de idade, em uma destas festas, em meio aos balões, fogueiras, batata doce e fogos, alguém menos avisado, soltou um foguete de grande poder explosivo próximo do garoto Telê. Não espoucando logo a bomba ou coisa parecida, Telê, o mais próximo, correu em sua direção sem que houvesse tempo para que alguém o impedisse, e colocou sua mãozinha esquerda, em forma de concha, sobre o explosivo. Em segundos toda a alegria presente a festa esvaiu-se, como por encanto no balanço trágico e registrava-se o fato de ter sido decepado o dedo indicador de sua mão esquerda e metade do polegar da mesma mão. Seus tios e seus pais, que também se encontravam presentes, ficaram quase doidos de dor e desespero, ante o inesperado e das consequências do triste acidente acontecido com o esperto garoto. Todavia, aos poucos, conformaram-se, embora, por muito tempo tristes em ver uma criatura que nascera sã, ficar repentinamente com um defeito físico. Além do mais, foram meses de sofrimento para Telê e de apreensão e desespero para seus entes queridos, mormente sua tia que não se afastava um minuto sequer de perto do querido sobrinho.
Este é um dos capítulos tristes da história da vida deste fabuloso craque do futebol brasileiro.
O primeiro emprego de Telê
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Telê em frente a casa onde morava em Itabirito. |
Ao terminar Telê, o ciclo primário, aos 11 anos de idade, seus tios queriam vê-lo continuar nos estudos, pois sonhavam para ele, com um futuro brilhante, do qual se orgulhassem e lhe fosse facultado viver uma vida de conforto. Todavia, Telê obstinava-se em não querer continuar seguir os estudos, assim é que fugia sempre do colégio em que seus tios o haviam matriculado. Sua tia, então, aborrecida e querendo impor-lhe um castigo, na esperança de que ao enfrentar a dureza do trabalho, o menino resolvesse voltar aos estudos arranjou-lhe um emprego. Foi, então Telê trabalhar em um armazém em Usina Esperança, localidade distante de Itabirito 4 quilômetros. Isto aconteceu em 1943. Telê, confessa, que embora o serviço que tinha para executar não fosse muito nem pesado, não era agradável e sentia-se mesmo, contrariado no trabalho. Entretanto, nada dizia a seus tios, pois não queria de modo algum voltar aos estudos. Assim, passou Telê, um ano em Usina Esperança, e, lamentando, principalmente, o pouco tempo de que dispunha, para os deliciosos banhos de rio, e principalmente para as famosas peladas, das quais era o astro principal.
O segundo emprego de Telê incluía a obrigação de jogar futebol
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Telê no juvenil do Itabirense (agachado, 2º da direita para a esquerda) |
Em 1944, Telê foi convidado a trabalhar como auxiliar de escritório em uma fábrica de calçados. Todavia, o emprego era condicionado a que Telê jogasse pelo time juvenil do Itabirense da cidade local. Telê, então com apenas 13 anos de idade, via-se elevado à condição de “craque mirim”, já usufruindo vantagens, inclusive, pelos seus dotes de jogador de futebol que começavam a manifestar-se. Assim é, que Telê, depois de pensar um pouco sobre o assunto, resolveu aceitar a oferta, não só por ter um emprego mais acessível e melhor remunerado, como também, mais perto, já que o estabelecimento ficava no centro da cidade.
Além do mais, existia a parte do futebol, pois, era a sua prática, a diversão predileta do menino de Itabirito. Foi a oportunidade para que Telê adquirisse o devido traquejo dentro da formação de um quadro de futebol, já que era esta a primeira vez que ele integraria um quadro devidamente uniformizado com a formação normal e de chuteiras. Neste grêmio pôde o jogador tricolor desenvolver suas qualidades futebolísticas formando na posição de centro-avante. Foi ele, quase cinco anos, a grande estrela do poderoso quadro de juvenis do Itabirense, onde era um verdadeiro ídolo, começando, pois, de modo auspicioso a sua carreira que – longe estava ele naquela época de supor – que abraçaria profissionalmente, pois, até então, só praticava o futebol como esporte e diversão.
Um rude golpe na vida de Telê, fê-lo mudar-se para São João Del Rey
Em 1948, Telê sofre um duro golpe em sua vida quando ainda bem jovem, pois ainda contava apenas 17 anos de idade. A vida prosseguia em sua rotina normal e feliz para Telê ao lado de sua querida tia, que nem mesmo se casou para melhor dedicar-se ao menino. Um dia, porém, quando o menino menos esperava, aquele coração boníssimo, o qual pertencia quase que totalmente a Telê, aquele coração que conheceu aflições e alegrias no decorrer da existência de Telê, parou de pulsar. O golpe foi rude e cruel para Telê, que, igualmente, adquirira por sua querida tia uma grande amizade como se fosse ela sua segunda mãe, Telê não esquecera os desvelos e carinhos com que Dona Maria Faustina da Silva se dedicara à sua criação.
O menino alegre que era, transformou-se em um rapaz taciturno e pensativo, curtindo a imensa dor que lhe causava a ausência da sua inesquecível tia. Entretanto, a vida teria de continuar e Telê transferiu sua residência para São João Del Rey, indo morar pela primeira vez, do seu primeiro ano de vida, em companhia de seus pais. Naturalmente não foi fácil a seus pais, convencê-lo a despertar para a vida, mostrando-lhe que era muito jovem e devia olhar o futuro que ainda tinha pela frente. Para começar, Telê foi pela primeira vez enfrentar um trabalho árduo, já que com família numerosa, “seu” João necessitava que seus filhos já rapazes, o ajudassem, nos serviços da chácara que adquirira na cidade de São João Del Rey.
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Goitê, Telê, Atiê e Jorivê, no América Recreativo. |
Mas o pai de Telê era um entusiasmado pelo esporte e havia fundado um clube de nome América Recreativo de Futebol. Três dos irmãos de Telê integravam o time e eram eles, Jorivê, Atiê e Goitê. Telê, também, passou a jogar no quadro na posição de centroavante ou meia-direita. É excusado dizer que o time cresceu muito em poderio com a inclusão daquele que seria o craque da família. Cada vez mais Telê se destacava; suas atuações entusiasmavam, não só os locais como os viajantes que por ali passavam ou que amiudamente visitavam a encantadora cidade mineira. A esta altura, Telê já se conformara com o infausto acontecimento do falecimento de sua veneranda tia, embora a recordasse sempre com saudade e angústia, compreendera enfim, através da orientação ponderada e inteligente de seus pais, que a morte era desígnio divino e que não cabia ao ser humano revoltar-se contra ela e sim procurar prosseguir na luta pela vida e encontrar lenitivo no trabalho e na pratica do seu esporte e diversão predileta, que era o futebol. Há acrescentar que sua progenitora foi sempre contra a que os filhos praticassem futebol. O pai de Telê, porém, era o sustentáculo, pois além de gostar de futebol, queria ver seus filhos satisfeitos, divertindo-se naquilo que lhes desse satisfação.