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Megafone do esporte: o craque Thomaz Mazzoni

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Arte: Zuca Sardan


“Deixa Falar: o megafone do esporte”, espaço de debates que sai quinzenalmente, sábado sim, sábado não, aqui, no Literatura na Arquibancada, na Carta Maior (http://www.cartamaior.com.br), no blog do Juca (http://blogdojuca.uol.com.br/) e no Centro Esportivo Virtual (CEV) (http://cev.org.br/), debatendo o esporte em geral e o futebol em particular, dialogando com a História, Política, Música, Economia, Literatura, Cinema, Humor, traz nesta edição artigo sobre o mestre do jornalismo esportivo, Thomaz Mazzoni. O autor é nosso convidado especial, Rafael Silva, mestre em História pela PUC-RJ.

Um mestre do jornalismo esportivo brasileiro
Por Rafael Silva

Arte: Zuca Sardan

Thomaz Mazzoni foi um dos mais importantes jornalistas esportivos da história da imprensa brasileira, destacando-se por seu trabalho em jornais, obras publicadas e revistas de São Paulo na primeira metade do século XX.  Seu livro História do Futebol no Brasil 1894 – 1950”é referência obrigatória para jornalistas, acadêmicos e aficionados de uma maneira geral.

Italiano de nascimento, mas brasileiro por escolha – naturalizou-se em 1945 −, Mazzoni chegou ainda criança ao Brasil em 1909, junto com toda a família Mazzoni. Criou-se na região do Braz, na Rua do Gasômetro, reduto da crescente colônia italiana na cidade de São Paulo. Segundo relatos de familiares, teria sido um bom ponta-esquerda quando jogava na “Várzea do Carmo”. Além disso, teria fundado com um de seus irmãos um time chamado “Polignare a Mare FC”, e tendo jogado também no “Eduardo Prado” e no “São Cristóvão”. 


Seu primeiro trabalho como jornalista esportivo foi no semanário S. Paulo Sportivo, em meados de 1922, e a partir de 1925, tornou-se gerente desta publicação. Ao longo da década de 1920 também passou por outras folhas como: O Combate; São Paulo Jornal; Diário Nacional, além de se tornar diretor de outro semanário, o Estampa Esportiva. Esta primeira etapa da carreira de Thomaz Mazzoni chamou atenção do empresário e proprietário d’ A Gazeta, Cásper Líbero, que o levou para o seu jornal em 1928 para trabalhar com Leopoldo Sant’Anna.

Foi em A Gazeta que Thomaz Mazzoni consolidou sua carreira de jornalista, tendo trabalhado no grupo até o seu falecimento. No ano seguinte à sua chegada, lançou sua primeira publicação, o Almanach Esportivo1928. Depois vieram os almanaques dos anos de 1929 a 1934, com um período de interrupção até 1939, quando passou a ser lançado todos os anos até 1941 – desta data em diante o cronista continuou a escrever, mas vendeu os direitos autorais e financeiros para uma editora.


Em 1930, Thomaz Mazzoni, passou a ser o redator e editor-chefe de “Todos os esportes” - caderno esportivo d’ A Gazeta. E foi a partir desse dia que o jornalista passou a publicar a sua grande marca, a coluna “Olimpicus”, que saía todos os dias na primeira página da seção esportiva - o nome da coluna é fruto do pseudônimo com o qual assinava suas crônicas neste espaço. Aqui, Mazzoni estabeleceu um diálogo direto com o leitor do jornal através de uma escrita simples, repleta de gírias e expressões populares, a qual usava para criticar o que considerava “males do esporte”. Por outro lado, a coluna foi espaço para comentários apaixonados e carregados de emoção sobre os jogos, e análises dos mais diferentes campeonatos e times.

Nas páginas d’A Gazeta Thomaz Mazzoni usou todo seu talento ao criar os mascotes e apelidos de alguns times de São Paulo –“Clube da Fé”, ao São Paulo, “Timão e Mosqueteiro”, ao Corinthians, “Campeoníssimo”, ao Palmeiras, “Moleque Travesso”, ao Juventus, e “Nhô Quim”, ao XV de Piracicaba, entre outros - e batizar os grandes clássicos da capital paulistana – “Choque Rei, “Derby Paulista, “Majestoso e “San-São


A década de 1930 foi, sem dúvida, a de maior produção bibliográfica de Mazzoni. Além dos cinco “Almanaques Esportivos”, em 1933 publicou seu primeiro livro, “Hockey”. No ano seguinte, o primeiro volume de sua autoria sobre um clube de futebol específico, “Histórico do Palestra”. Em 1937, publicou a obra “Ciclismo para todos”, onde, além do histórico deste esporte no Brasil e no mundo, abordava os recordes, resultados e diferentes tipos de treinamento. No ano seguinte, foi publicado seu livro de maior sucesso editorial, “O Brasil na Taça do Mundo”. Nesta obra, através de crônicas saborosas, comentou e criticou os diversos aspectos que cercaram a campanha da seleção brasileira de futebol no mundial da França, em 1938. Nos dois anos seguintes publicou, em sequência, “Problemas e aspectos do nosso futebol” e “Flô, o melhor goleiro do mundo”, primeiro romance que tratou especificamente do futebol em nosso país.

A década de 1940 começou com outra obra do jornalista, “lançada sob os auspícios da criação do Conselho Nacional de Desportos- CND”, “O esporte a serviço da pátria”. Em 1942, ganhou o “Concurso Literário do SPFC”, publicando uma compilação de crônicas que abordavam os mais diferentes aspectos do esporte brasileiro. No ano seguinte, publicou um novo histórico sobre uma equipe de São Paulo, “Histórico do S. Paulo FC”. Em 1945, em função da realização do Campeonato Sul-Americano no Chile, publicou “O Brasil no campeonato Sul-americano de futebol” com o “histórico da participação do Brasil no torneio continental”. Com um apetite literário interminável, em 1947, lançou mais duas obras, que tratavam de dois dos mais antigos “grêmios da capital paulista”, “Histórico do Ypiranga”e “Histórico do Corinthians”. Neste mesmo ano, Thomaz Mazzoni passou a trabalhar no mais novo periódico esportivo da capital paulista, a Gazeta Esportiva, onde, como redator-chefe, continuou publicando a coluna “Olimpicus”, ajudando a fazer deste o jornal esportivo de maior tiragem da capital paulista nas três décadas seguintes.


Em 1950, em homenagem à Copa do Mundo, lançou o livro que pode ser considerado a “bíblia” para os interessados nos resultados e estatísticas dos primeiros 56 anos do futebol brasileiro, História do Futebol no Brasil 1894 – 1950”. Como o planejado livro sobre a vitória brasileira em 1950 não saiu do papel, em função da derrota para o Uruguai, em 1958 lançou o livro cujo título expressava claramente o sentimento que a vitória da seleção brasileira sobre a Suécia causou nos brasileiros: ”O mundo aos pés do Brasil: a desforra de 38, 50 e 54”. Este seria o último livro de fôlego da carreira do jornalista. Mas ele ainda contribuiu em obras como “O ano de ouro do esporte brasileiro”, “Eu sou Pelé”,entre outros.

Seguidas vezes ganhou o prêmio “Pena de Ouro do Brasil”. Também ganhou comendas de três presidentes da República pelo reconhecimento de seu trabalho e ações dentro do jornalismo esportivo. Participou de inúmeras mesas-redondas, onde chamava atenção pelo seu espírito explosivo, levando os convidados e até o moderador a provocarem-no ainda mais, o que contribuía para um considerável aumento na audiência do programa.

Faleceu meses antes da Copa do Mundo do México, de 1970, não testemunhando a vitória do Brasil, mas com seu estilo militante e ousado deixou gravado o seu nome no jornalismo esportivo brasileiro e sua obra como legado histórico para os admiradores do futebol nacional.

Sobre Rafael Silva:
 
Convidado do “Deixa Falar: o megafone do esporte” é Graduado e Mestre em História pela PUC - RJ, pesquisa imprensa esportiva paulista nas décadas de 1920 até 1950.









Deixa Falar: o megafone do esporte, criação e edição de Raul Milliet Filho.

Sobre os autores do “Deixa Falar: o megafone do esporte”

 
Ademir Gebara Graduado em História e Educação Física, mestre em História pela USP, PH D em História pela London School of Economics and Political Science., ex-diretor e coordenador de Pós da FEF Unicamp, professor visitante da Universidade Federal da Grande Dourados.


Antonio Edmilson Rodrigues – é América, livre docente em História, professor da UERJ e da PUC-RJ, pesquisador de História do Rio de Janeiro, escritor de temas vinculados à história urbana, coordenador do projeto Conversa de Botequim e autor de João do Rio, a cidade e o poeta.


Bernardo Buarque – professor da Escola Superior de Ciências Sociais (FGV) e pesquisador do CPDOC/FGV. `É editor da coleção Visão de Campo (7 Letras). Em 2012, publicou o livro ABC de José Lins do Rego (Editora José Olympio).

 
Flavio Carneiro - é botafoguense, além de escritor, roteirista e professor de literatura na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).www.flaviocarneiro.com.br.


José Paulo Pessoa – é botafoguense, ator, advogado, que achava o Didi mais impressionante que o Garrincha (que foi o maior que já vi!). Diretor, cantor e compositor do Bloco das Carmelitas, de Santa Teresa (RJ).


José Sebastião Witter – é torcedor do São Paulo, professor emérito da USP e professor normalista.


Luiz Carlos Ribeiroé professor do Departamento de História da UFPR e coordenador do Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade.


Marcelo W. Proni – economista, doutor em Educação Física pela Unicamp, professor do Instituto de Economia da Unicamp, torcedor do Botafogo de Ribeirão Preto.

 
Marcos Alvito - É carioca de Botafogo e Flamengo até morrer.  É um antropólogo que dá aula de História na UFF desde o longínquo ano de 1984.  Perna-de-pau consagrado, estuda um jogo que nunca conseguiu jogar direito: o futebol. Mas encara qualquer um no futebol de botão. Acaba de publicar A Rainha de Chuteiras: um ano de futebol na Inglaterra (www.clubedeautores.com.br)


Ney Costa Santos- É Flamengo, Mestre em Comunicação Social e Professor da PUC-Rio. Cineasta, dirigiu os filmes Heleno e Garrincha, Meu Glorioso São Cristovão, O Pulo do Gato, Cinema Interior, Cole in Rio e Padre-Mestre.

 
Raul Milliet Filho – é botafoguense, mestre em História Política pela UERJ, doutor em História Social pela USP. Como professor, pesquisador e autor prioriza a cultura popular. Gestor de políticas sociais, idealizou e coordenou o Recriança, projeto de democratização esportiva para crianças e jovens.


Ricardo Oliveira – é Vasco, jornalista, educador da prefeitura do Rio de Janeiro e pesquisador da História do futebol. Coordenador da pesquisa do livro Vida que Segue: João Saldanha e as Copas de 1966 e 1970.


Wanderley Marchi Jr – doutor em Educação Física e Sociologia do Esporte e professor da Universidade Federal do Paraná/BRA e da West Virginia University/USA.


Zuca Sardan (Carlos Felipe Saldanha) – É torcedor do Vasco, nasceu no Rio de Janeiro em 1933, mas vive em Hamburgo, na Alemanha. Estudou arquitetura, mas fez diplomacia. Estudou desenho, mas fez letras. Hoje dedica-se a desenhos, vinhetas, poesias e folhetins. Entre seus livros, estão: Ás de coletepoesias, desenhos e Osso do Coração.

Acompanhe as outras edições do Deixa Falar: o megafone do esporte nos links abaixo:

Arte: Zuca Sardan.



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