O jornalismo esportivo perdeu neste 4 de dezembro de 2014 mais uma de suas maiores referências. Roberto Porto, o “Robertão” para os amigos, um jornalista que jamais escondeu sua paixão pelo clube de coração, o Botafogo.
Porto nasceu em 1940, no Rio de Janeiro. Foi repórter e redator do Jornal do Brasil. Na Bloch Editores trabalhou nas revistas Enciclopédia Bloch, Fatos & Fotos e Domingo Ilustrado, trocando depois as revistas por O Globo, onde foi subeditor de esportes. Voltou ao Jornal do Brasil, como subeditor de esportes, retornando pouco depois a O Globo no mesmo cargo. Por fim, trabalhou em O Dia e foi editor-chefe da Tribuna da Imprensa. Foi colunista do Jornal dos Sports.
Por todos os jornais, Porto cobriu várias Copas do Mundo, Jogos Olímpicos e Pan-Americanos.
Escreveu também diversos livros. Com João Máximo, publicou A História Ilustrada do Futebol Brasileiro (Edobrás, 1968), em quatro volumes, e, com Carlos Leonam e Manoela Pena, lançou Dicionário Popular de Futebol – O ABC das Arquibancadas (Editora Nova Fronteira, 1999). Manteve um blog http://blogdorobertoporto.blogspot.com.br/. Participava do programa Loucos por Futebol, do canal ESPN Brasil.
Entre tantos livros publicados sobre o Botafogo, um em especial, Botafogo: 101 Anos de História, Mitos e Superstições (Editora Revan, 2005), acabou gerando pelo editor da obra, seu amigo César Oliveira (o acento você entenderá ao ler o texto abaixo), uma crônica emocionante.
Ao longo dos três anos de existência, Literatura na Arquibancada destacou vários livros e textos do craque Roberto Porto e que podem ser acessados nos links a seguir:
MEU AMIGO ROBERTO PORTO
Por César Oliveira
Não lembro mais qual foi a coluna dele no Jornal dos Sports que eu comentei, através do e-mail portoroberto@uol.com.br. Mas é claro que era sobre a sua maior paixão imaterial: o Botafogo de Futebol e Regatas. Era 2004 e ele logo respondeu.
E-mail pra cá, e-mail pra lá, ele manda essa, quase um lamento:
– César (ele sempre acentuou meu nome), meu sonho é escrever o meu livro sobre o Botafogo.
Se você escrever, eu dou um jeito de publicar, respondi. Como assim?, quis saber. Ora, trabalho com livros desde 1980, sei fazer, vamos fazer?
A resposta abriu caminho para o começo de uma curta, mas intensa amizade:
– Onde você mora?
Morávamos a menos de 500 metros um do outro, ele na Senador Nabuco, eu na Visconde de Abaeté, em Vila Isabel. Pedi seu telefone, liguei, Ada atendeu e passou pra ele:
– Vem pra cá agora! – pedido quase ordem que se repetiu pela amizade afora, mesmo depois que ele mudou pros cafundós do Recreio dos Bandeirantes.
Foi difícil convencê-lo que ele não era um qualquer. Que estava à altura de Saldanha e Sandro, Oldemário e Sergio Augusto.
Foi assim que começou o sucesso de “Botafogo: 101 anos de histórias, mitos e superstições” que, agora posso revelar, mereceu apoio imediato de Manoel Renha, Carlos Augusto Montenegro, Sávio Neves, Luiz Roberto Santos, Pedro Bulcão e Durcésio Mello. Valério Gomes, da Ideia Busdoor, nos concedeu um monte de adesivos em ônibus. O Jornal dos Sports não criou impedimento a que usássemos seu rico acervo para ilustrar o livro. Eu ainda não havia criado a LivrosdeFutebol.com e, então, lançamos pela Revan.
Um livro histórico, de colecionador, com muitas fotos do Jornal dos Sports e o rico projeto gráfico da MQuatro Design, dos meus queridos Marcelo Fonseca da Rocha e Lina Mizutani. Um brinco de livro, um orgulho imenso e pra sempre.
Ele escreveu tudo rapidamente e não parava de ligar, várias vezes ao dia, indócil como o seu maior projeto editorial. Era o sonho de uma vida:
O "meu" livro sobre o Botafogo!
Quando o livro chegou da gráfica, chamei o Marcelo e combinamos de levar o livro pro Porto. Entramos no apartamento, ele nos recebe, então o Marcelo abre a pasta e apresenta a preciosidade. Ele olhou a capa, com sua caricatura feita pelo Ique, comemorando um gol do Botafogo numa pilha de jogadores que tinha Elton, Mané Garrincha, um jovem Jairzinho e, como cereja do bolo, Gérson Canhotinha de Ouro ainda com muito cabelo.
Ele pegou o livro, virou-se de costas pra nós, que não sabíamos o que fazer ou dizer, apenas vê-lo se afastar para a varanda, onde se sentou, e folheou o livro, chorando por quase meia hora.
O lançamento foi na livraria Dantes, da Ana e do Flamínio Lobo, em cima do Odeon BR. Como ele morava no Recreio, pedi que fosse de manhã pra casa do cunhado, em Vila Isabel, almoçasse e descansasse, para chegar ao Odeon lá pelas 18 horas.
Fez tudo o que eu pedi. Chegou à livraria às 17 horas, normalmente ansioso.
Mal subiu as escadinhas, já encontrou cinco torcedores na fila. Um, chegara pouco antes de Juiz de Fora, especialmente para o lançamento. Pra agradar os torcedores, sentou-se no local reservado a ele e começou a atender a todos. Trouxera dez canetas e quatro maços de cigarros.
Logo, uma multidão encheu o local, e olha que o Botafogo não ganhava o Carioca desde 1997, passara o Centenário em branco.
Alexandre Niemeyer, do Canal 100, generosamente fornecera um filmete de vinte minutos, que passava no cinema enquanto o lançamento acontecia. Velhos companheiros, imprensa, torcedores e admiradores lotaram o espaço, mais de quatrocentos livros vendidos.
Marcelo Duarte, um dos Loucos por Futebol, apareceu com um bigode de bombril, para homenagear o Mestre.
No final da noite, no rescaldo da alegria, ele se levanta, estávamos apenas em família, então peço o meu autógrafo e ele me diz:
– Porra, espera que eu preciso mijar! Não levantei dali desde que cheguei! Nem fumar, fumei.
"Em poucas e resumidas palavras": mais Roberto Porto, impossível.
Que Deus te abençoe, meu amigo! Pelo menos, agora, você vai matar as saudades da Ada Regina!
O abraço e a admiração do
César Oliveira
César Oliveira
PS.: Nessa despedida, acato a sua gozação e autoacentuo o meu nome.