Arte Zuca Sardan |
Deixa Falar: o megafone do esporte é um espaço que estará aqui no Literatura na Arquibancada , no blog do Juca e na Carta Maior (http://www.cartamaior.com.br) quinzenalmente, sábado sim, sábado não, debatendo o esporte em geral e o futebol em particular, dialogando com a História, Política, Música, Economia, Literatura, Cinema, Teatro, Humor etc.
O Megafone do esporte não tem medo de bola dividida e não vai tirar o pé diante de fatos cotidianos polêmicos, como a privatização do Maracanã e os mandatos quase vitalícios de cartolas em seus cargos.
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Mas tudo sempre pautado pelo bom humor e aberto ao contraditório, pois Megafone que se preze não é dono da verdade: Deixa Falar.
O time do Deixa Falar: o megafone do esporte tem treze participantes (confira no final o time de craques). O grupo é plural, com opiniões diferentes nos assuntos, nas ideias e também nas idades de seus componentes, que variam dos 30 aos 80 anos.
Nesta segunda edição, a reflexão sobre os novos rumos do clube de maior torcida no Brasil, o Flamengo, com a eleição de Eduardo Bandeira de Mello, ex-diretor do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento.
E a modernização voltou ...(sobre a nova diretoria do Flamengo)
Por Luiz Carlos Ribeiro
Arte Zuca Sardan |
O entusiasmo do jornalista Juca Kfouri em relação à eleição da nova diretoria do Flamengo, ocorrida em três de dezembro último, dá alguma mostra de como o conceito de “modernização” tornou-se banal no futebol brasileiro.
Juca foi um dos primeiros jornalistas profissionais a levantar a bandeira da modernização do nosso macunaímico futebol.
A conjuntura era o final dos anos 80 quando alguns diretores de clubes, aproveitando a crise financeira e política que passava a CBF, resolveram organizar por conta própria o campeonato brasileiro e, por extensão, fundar uma liga independente, que ficou conhecida como Clube dos 13. Na ocasião Juca era diretor de uma das mais influentes mídias esportivas, a revista Placar (Grupo Abril) e não apenas apoiou a “Copa União”, como via na embrionária liga um sinal de rompimento com a arcaica e corrupta CBF, bem como a perspectiva de alcançar a desejada modernização do futebol brasileiro.
Quando em 2011 uma nova crise atingiu no Clube dos 13 – que acabou resultando no seu fim trágico – Juca Kfouri (em tom melancólico, como exigia a ocasião), vaticinou a morte da modernidade que a liga, afinal, nunca havia completada. O título de sua crônica era emblemático: “Nascimento e agonia do Clube dos 13”.
“Conto aqui o que vi, e poucas coisas vi tão por dentro em minha vida de jornalista como o nascimento do Clube dos 13 e da Copa União. Como vi o começo lento e gradual de sua decadência. Curiosa e dramaticamente, sua implosão se dá quando parecia ressurgir, embora, agora, pareça mais que tenha sido aquela famosa melhora do doente antes de morrer”.(1)
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Eduardo Bandeira de Mello |
Agora, quando eleita a nova diretoria do Flamengo, reaparece o velho discurso da modernidade. O presidente eleito, Eduardo Bandeira de Mello (ex-diretor BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento), montou uma equipe composta de pesos pesados do empresariado nacional. De acordo com o noticiado pela imprensa, nomes como Flavio Godinho, executivo da MPX; Rodolfo Landim, ex-executivo da BR Distribuidora e OGX; Luiz Eduardo Baptista, presidente da Sky e Carlos Geraldo Langoni, ex-presidente do Banco Central do Brasil serão os arquitetos da neomodernidade flamenguista.
Perguntado em entrevista ao LANCE!Net sobre qual o carro-chefe da sua proposta, Bandeira de Mello afirma entusiasmado:
“É a equipe que nós temos e a proposta de modernidade e foco na gestão. Queremos a profissionalização do clube. Temos uma equipe de executivos bem-sucedidos na vida empresarial. Ao anunciar um vice-presidente eu me sinto como se fosse o Presidente da República anunciando um ministro. Esse nosso time poderia compor um ministério da República ou secretariado importante. O Flamengo nunca teve em sua administração pessoas do calibre, da competência e da credibilidade desses vice-presidentes que estamos anunciando aos poucos”.(2)
Sobre a dívida financeira que acumula o clube, Bandeira de Mello não é menos modesto: “Nosso homem da reestruturação da dívida será o professor Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e que lidou com a dívida externa na época mais barra pesada que remonta às negociações com o FMI e o Clube de Paris.”
Sobre essa postura de modernidade e profissionalização, Juca é mais reticente que entusiasmado. Afinal, não seria esse apenas mais um discurso?
“Eduardo Bandeira de Mello é o nome da nova esperança da maior torcida do Brasil, a do Flamengo. (...) Bandeira de Mello, ex-diretor do BNDES, ganhou com facilidade com 1.414 votos do total de 2.675 eleitores, e promete profissionalizar o Flamengo, com apoio do ídolo Zico. Tomara que cumpra e que não seja mais uma decepção, como a própria Patrícia Amorim” (...) (3)
De forma diversa, chama atenção o entusiasmo de um personagem chave nessa curta e mal-aventurada modernização do futebol brasileiro, o empresário e escritor da área de marketing, João Henrique Areias:
“As entidades esportivas brasileiras (clubes, federações e confederações) precisam rever e modernizar seus sistemas de gestão para fazer frente aos novos desafios da indústria do esporte. Profissionalização, boa governança, credibilidade, são mais que atributos, são fatores críticos de sucesso para o desenvolvimento do esporte nacional.
Por esta razão, não tive dúvidas em apoiar e ajudar na coordenação do Eduardo Bandeira de Mello, de forma voluntária.
Ele e o grupo formado por empresários de reconhecida competência, são uma benção não só para nosso Flamengo, mas com capacidade de influenciar e modificar usos e costumes viciados do nosso esporte”.(4)
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Areias, para quem não lembra, foi figura decisiva, anos de 80, na construção do sistema de venda dos jogos para as redes de TV, em especial a Rede Globo. Era uma parceria que fazia parte do pacote da modernização, pois teoricamente possibilitaria aos clubes aumentar suas rendas e sair da miséria e do endividamento.
Desse então, muita coisa mudou, mas a divisão entre o arcaico e o moderno continua uma linha tênue e quase invisível. Os ventos que sopram da CBF, sob a presidência de José Maria Marin, e as promíscuas relações entre público e privado, envolvendo os gastos com Copa de 14, entusiasmam menos ainda. Nesse sentido, acompanho o ceticismo de Juca Kfouri.
(1) Folha de S.Paulo. 1º mar. 2011. Disponível em: <http://blogdojuca.uol.com.br/2011/03/nascimento-e-agonia-do-clube-dos-13/>. Acesso em 13 abr. 2011
(3) UOL, 04.12.2012. Disponível em: http://blogdojuca.uol.com.br/2012/12/a-nova-esperanca-do-flamengo-e-o-novo-desafio-do-corinthians/
(4) Areias, João Henrique. Por que votar na Chapa Azul nas eleições do Flamengo. Blog do Juca Kfouri, 30.11.2012.
Sobre Luiz Carlos Ribeiro:
Luiz Carlos Ribeiro é professor do Departamento de História da UFPR e coordenador do Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade.
Luiz Carlos Ribeiro é professor do Departamento de História da UFPR e coordenador do Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade.
*Deixa Falar: o megafone do esporte, espaço de debates idealizado e editado por Raul Milliet Filho.
Sobre os autores do Megafone do Esporte:
Ademir Gebara– graduado em História e Educação Física, mestre em História pela USP, PH D em História pela London School of Economics and Political Science, ex-diretor e coordenador de Pós da FEF Unicamp, professor visitante Universidade Federal da Grande Dourados.
Antonio Edmilson Rodrigues – é América, livre docente em História, professor da UERJ e da PUC-RJ, pesquisador de História do Rio de Janeiro, escritor de temas vinculados à história urbana, coordenador do projeto Conversa de Botequim e autor de João do Rio, a cidade e o poeta.
Bernardo Buarque – professor da Escola Superior de Ciências Sociais (FGV) e pesquisador do CPDOC/FGV. `É editor da coleção Visão de Campo (7 Letras). Em 2012, publicou o livro ABC de José Lins do Rego (Editora José Olympio).
Flavio Carneiro – é botafoguense, além de escritor, roteirista e professor de literatura na UERJ.www.flaviocarneiro.com.br.
José Paulo Pessoa – é botafoguense, ator, advogado, que achava o Didi mais impressionante que o Garrincha (que foi o maior que já vi!). Diretor, cantor e compositor do Bloco das Carmelitas, de Santa Teresa (RJ).
Marcelo W. Proni – economista, doutor em Educação Física pela Unicamp, professor do Instituto de Economia da Unicamp, torcedor do Botafogo de Ribeirão Preto.
Marcos Alvito – é carioca de Botafogo e Flamengo até morrer. É um antropólogo que dá aula deHistória na UFF desde o longínquo ano de 1984. Perna-de-pau consagrado, estuda um jogo que nunca conseguiu jogar direito: o futebol. Mas encara qualquer um no futebol de botão.
Ricardo Oliveira – é Vasco, jornalista, educador da prefeitura do Rio de Janeiro e pesquisador da História do futebol. Coordenador da pesquisa do livro Vida que Segue: João Saldanha e as Copas de 1966 e 1970.
Wanderley Marchi Jr – doutor em Educação Física e Sociologia do Esporte e professor da Universidade Federal do Paraná/BRA e da West Virginia University/USA.
Raul Milliet Filho – é botafoguense, mestre em História Política pela UERJ, doutor em História Social pela USP. Como professor, pesquisador e autor prioriza a cultura popular. Gestor de políticas sociais, idealizou e coordenou o Recriança, projeto de democratização esportiva para crianças e jovens. Escreveu Mario Monicelli e o samba carioca: um diálogo possível e irreverente, para o XXVI Simpósio Nacional da Anpuh( Associação Nacional de Historia) em 2011 e que pode ser acessado aqui: http://www.snh2011.anpuh.org/
Zuca Sardan (Carlos Felipe Saldanha) – Nasceu no Rio de Janeiro em 1933, mas vive em Hamburgo. Estudou arquitetura, mas fez diplomacia. Estudou desenho, mas fez letras. Hoje dedica-se a desenhos,vinhetas, poesias e folhetins. Entre seus livros, estão: Ás de colete, poesias, desenhos e Osso do Coração.
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