Ele é um apaixonado pela literatura esportiva e batalha firme – mesmo com tantos “nãos” – pela formação de um mercado digno nesta área. Cesar Oliveira “sonha” com a consolidação de um (real) mercado de livros da literatura esportiva. Além de editor, também dá suas cacetadas em textos que ajudam o leitor a refletir sobre temas ligados ao futebol. É o que ele propõe na crônica abaixo (na verdade, uma mensagem enviada ao grupo Memofut – Memória e Literatura do Futebol – que o Literatura na Arquibancada pediu para postar por aqui).
César sugere um “drible na polêmica” criada em torno de quem foi melhor: Pelé ou Garrincha?
Literatura na Arquibancada sugere ainda a leitura da entrevista publicada por aqui com César Oliveira. Um papo que revela a realidade deste “mercado” dos livros de futebol.
Driblando a polêmica
Por Cesar Oliveira
Pelé é, foi e será, para todo o sempre amém, o maior jogador de futebol de todos os tempos. E Garrincha, perguntarão? Garrincha estava acima de qualquer tipo de julgamento, ele não pode ser comparado a um atleta como Pelé, porque não era atleta. Tinha graves problemas de saúde física e, digamos, mental. Apesar disso, sempre com humildade, sem pisar em ninguém, é admirado até hoje.
Tenho um cliente na Suécia que, certa vez, me fez uma compra grande de livros sobre Mané e o futebol brasileiro. Era jovem e me explicou de maneira surpreendente o motivo da compra: "Até hoje falam de Garrincha e Didi na Suécia". Deve ser por isso que nenhum "hermano" se arvora em contestar-lhe a grandeza.
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Zico perdendo pênalti contra a França, na Copa do Mundo 86 |
Quanto ao Botafogo... ora... o Botafogo tem uma vida centenária, linda, cheia de ídolos, lendas, craques, mitos, personagens, histórias... O Botafogo não precisa quem o defenda, muito menos eu, reles torcedor de arquibancada. Cada time e craque tem a sua grandeza. Quero reconhecer e brindar cada um. Não posso lutar contra a história do Zico, falando de um pênalti perdido; não posso lutar contra a história de Sócrates, falando das biritas. Bobagem. O que vale é o que escreveram pela vida. É isso que quero registrar, na memória e nos livros.
Por isso, não concordo e não aceito a lamentável bobajada da revista da ESPN, elegendo qualquer outro lateral-esquerdo, como o maior de todos os tempos, que não Nilton Santos. Ainda bem que se recuperam agora, resgatando essa história de Mané.
Quanto ao Ruy Castro e seu livro sobre Mané, isso já foi caso de muitos comentários e brigas. Certa feita, estava na livraria do Unibanco Arteplex (atual Blooks), em Botafogo, ouvindo Ruy, João Máximo, Helio de la Peña e a bela Clara Albuquerque falarem de literatura de futebol. No meio do papo, Marcos Eduardo Neves que, como eu, estava na plateia, questionou o Ruy sobre a capa do Estrela Solitária.
Talvez com o saco cheio de explicar isso mais uma vez, Ruy disse que não havia feito um livro sobre Mané, mas sobre alcoolismo. Estava, disse depois, em outro evento, reescrevendo o que dissera em Botafogo, tentando sublimar o próprio alcoolismo, afastar o estigma, entender como funciona. Só lhe pediam biografias, depois do sucesso do "Anjo Pornográfico".
E ele queria escrever sobre o alcoolismo, contra o qual luta diariamente, como é praxe nos adictos. Juntou uma coisa à outra e produziu o maior sucesso literário do futebol brasileiro, mais de 350 mil livros vendidos, depois dos anos de batalha judicial.
Enfim, é isso! Bola pra frente! Viva Mané, viva Pelé, vivam os grandes craques do futebol brasileiro.
Saudações Botafoguenses!
Sobre Cesar Oliveira:
Cursou a Escola Superior de Desenho Industrial e o pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing. Editou, entre outros, "Botafogo: 101 anos de histórias, mitos e superstições", de Roberto Porto; "O artilheiro que não sorria", de Rafael Casé; e "Quem derrubou João Saldanha", de Carlos Vilarinho. É descobridor da autobiografia inédita de Arthur Friedenreich, cheio de projetos e, como Diógenes, procurando patrocinadores. Botafoguense de primeira, continua achando que, nessa polêmica Pelé vs. Garrincha, vence quem é de Pau Grande....